Vivemos num sistema eleitoral deformado, no qual prosperam os discursos rasos, extremistas e segregadores. O populismo virou regra, a demagogia é estratégia, e a lógica eleitoral raramente privilegia quem propõe soluções baseadas em evidências, dados, pesquisas e competência. A consequência direta é o esvaziamento da política séria, técnica, focada em resultados. O mérito foi substituído pela performance; a substância, pela aparência.
A decadência política se revela, também, na deterioração das burocracias, na captura do poder legislativo por grupos de interesses especiais e em processos judiciais inevitáveis, mas complicados, que desafiam toda e qualquer tentativa de ação governamental estruturada. O Estado é cada vez menos capaz de formular e executar políticas de longo prazo, sufocado entre decisões judiciais, pressões corporativas e uma burocracia sem direção.
Nossos líderes, com raras exceções, não formam pessoas, pois são moldados por algoritmos, pelo calor das redes sociais e pela urgência de agradar bolhas digitais. A mensagem é cada vez mais curta, mais superficial, mais voltada ao efeito imediato. A população, por sua vez, parece querer se afastar das instituições, desejando ser representada por figuras que compartilhem suas dores, indignações e frustrações. Querem alguém que mude tudo, mesmo que, no fundo, nada mude.
Há uma desconexão profunda entre os partidos e a realidade vivida pelo povo. A maioria das legendas envelheceu no discurso, fossilizou-se nas estruturas internas e perdeu a capacidade de ler o país. Para atrair novos quadros, um partido político precisa, hoje, romper com as hierarquias arcaicas, abrir-se à renovação, promover formação programática séria e permitir que novos nomes tenham protagonismo real. A velha prática de importar lideranças prontas, com seus vícios e conveniências, serve apenas para perpetuar o status quo.
O momento exige líderes que falem com clareza, que saibam ouvir, que tenham propósito. Agentes políticos que não se conformem com as estruturas, mas que compreendam a complexidade dos desafios e saibam construir soluções inovadoras — ancoradas em dados, e não em slogans. É urgente superar o patrimonialismo de feições quase feudais que ainda domina o poder brasileiro. Precisamos de representantes que desafiem o establishment, enfrentem a corrupção e se levantem contra os monopólios políticos e econômicos travestidos de democracia.
Atualmente, a divisão política no Brasil centra-se mais em disputas culturais e identitárias do que em projetos reais de país. Falta conteúdo programático, falta visão de futuro, falta coragem para defender liberdades individuais, liberdade econômica, equilíbrio fiscal, desenvolvimento sustentável e democracia como projeto nacional, e não como retórica de ocasião.
O Brasil precisa de partidos que se vistam de povo, e não de burocratas do poder; que saibam usar as redes sociais não como vitrines de vaidade, mas como ferramentas de escuta, diálogo e mobilização; que estejam nas ruas, nos debates, nas escolas, nas comunidades, dispostos a construir políticas públicas modernas, conectadas à vida concreta das pessoas, baseadas na inovação, na empatia e na realidade.
Nossa nação carece de um novo pacto político, em que os cidadãos sejam efetivamente incluídos na tomada de decisão, e que a política não seja ocupação de castas, e sim instrumento coletivo de transformação. O futuro não será construído com as fórmulas do passado. É hora de reinventarmos a política, ou aceitaremos viver sob o domínio de quem a transforma em espetáculo vazio.
Michel Magul é secretário de Relações Internacionais da Assembleia Legislativa de Goiás, mestre em Planejamento Urbano pela PUC Goiás e advogado