Na última quarta-feira, dia 11 de junho, aceitei o convite da querida Helena Vasconcelos para assistir à apresentação “Emílio e o pé de milho”, do grupo de quadrilha UAI São João, no HGG (Hospital Geral de Goiânia). O tema deste ano teve referências nos personagens dos contos fabulosos de Monteiro Lobato.
“Para o amor brotar basta um grão de milho mágico plantar” foi o lema escolhido, com figurino para os dançarinos e para o narrador-protagonista, inspirado no Visconde de Sabugosa e, para as dançarinas: Emília, a icônica boneca de pano.
Em meio ao popurri de canções clássicas de São João, a música de Gilberto Gil “Ser diferente é normal” finalizou a odisseia coreográfica do grupo numa despedida acalorada e inclusiva, demonstrando sua originalidade, empatia e confiança.
A canção do baiano Gil, remasterizada aos passos frenéticos dos dançarinos, vem como um chamado de atenção, um recado, um alerta para um diagnóstico social:
"Todo mundo tem seu jeito singular
De ser feliz, de viver e de enxergar
Se os olhos são maiores ou são orientais
E daí? Que diferença faz?
Todo mundo tem que ser especial
Em oportunidades, em direitos, coisa e tal
Seja branco, preto, verde, azul ou lilás
E daí? Que diferença faz?
Já pensou, tudo sempre igual?
Ser mais do mesmo o tempo todo não é tão legal
Já pensou, sempre tão igual?
Tá na hora de ir em frente
Ser diferente é normal!
Todo mundo tem seu jeito singular
De crescer, aparecer e se manifestar
Se o peso na balança é de uns quilinhos a mais
E daí, que diferença faz?
Todo mundo tem que ser especial
Em seu sorriso, sua fé e no seu visual
Se curte tatuagens ou pinturas naturais
E daí, que diferença faz?!
Ser diferente é normal!"
Quem costuma acompanhar as pesquisas estatísticas, se depara com índices alarmantes de problemas psicológicos no país. “Segundo dados atualizados da OMS e Fiocruz, o Brasil ocupa o 2° lugar em prevalência de transtorno de ansiedade e a maior taxa de depressão da América Latina, na faixa etária entre 18 a 34 anos, que tomam medicamentos para sofrimento mental".
A crise na saúde não é só física, ou neurológica, é cultural.
Somos como uma colcha de retalhos costurada por muitas mãos diferentes ao redor do mundo. Uma boneca de pano feita com pedaços de tecidos importados, remendada com restos e rasgos, cheios de histórias, memórias e heranças.
Ser bombardeados constantemente por mídias e influenciadores que recorrem ao artifício de atribuir valor aos padrões de vida artificiais, imagens manipuladas, falsas informações e à ostentação como se fossem um estilo de vida comum e admirável é absurdamente doentio e amoral.
Fica até mais fácil acreditar nos alarmantes dados estatísticos sobre a saúde pública brasileira, embora ainda sigamos como uma nação que nunca desiste de ser diferente!
Ainda bem que existem artistas para nos lembrar que a cura está, principalmente, na cultura. Parabéns ao HGG, que introduz, persistentemente, o tratamento cultural aos seus pacientes e à sua equipe hospitalar.
A cultura literalmente cura.