A Redação
Goiânia - Diante do anúncio da desapropriação do Jóquei Clube, por parte da Prefeitura de Goiânia, que pretende transformar o local em um centro cultural, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU/GO) reafirmou, nesta sexta-feira (2/5), seu posicionamento em defesa da preservação e requalificação do edifício, localizado no coração da cidade - entre a Rua 3 e a Avenida Anhanguera. A entidade, porém, fez questão de destacar a importância de que qualquer intervenção seja pautada pelo respeito ao valor histórico, arquitetônico e ambiental do conjunto, "de forma a garantir que o edifício não seja apenas revitalizado, mas integrado de maneira qualificada à vida urbana da capital".
Mabel já tinha garantido que
o imóvel passará por estudos técnicos para definir a melhor forma de readequação, respeitando seu valor arquitetônico e cultural eque a iniciativa está em consonância com as diretrizes do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Goiânia, priorizando a recuperação de estruturas existentes e a racionalização dos recursos públicos.
De todo modo, o CAU/GO preferiu tornar público seu posicionamento, lembrado que, apesar de
seu valor arquitetônico, paisagístico e histórico, a preservação do edifício já enfrentou graves ameaças, como em 2017, quando foi anunciada a intenção de demolição da sede para a construção de uma filial do Templo de Salomão, da Igreja Universal do Reino de Deus.
Agora em 2025, com o anúncio da desapropriação do Jóquei o Conselho lembra que é indispensável que o projeto de requalificação seja conduzido com sensibilidade técnica e compromisso com a preservação. Isso implica não apenas restaurar o edifício conforme os princípios do restauro moderno, mas também repensar o uso do solo, recuperar as áreas verdes originais e reintegrar o córrego ao tecido urbano de forma ambientalmente qualificada.
Segundo o CAU/GO, para que essa revitalização seja bem-sucedida, a realização de um concurso público nacional de arquitetura é o caminho mais adequado para garantir um projeto à altura do desafio. "O concurso assegura transparência, estimula a criatividade profissional e possibilita a escolha de uma proposta com excelência técnica, sensibilidade cultural e comprometimento urbano", diz a entidade em nota.
"Revitalizar o Jóquei Clube de Goiás é mais do que conservar um prédio: é resgatar uma visão de cidade moderna, aberta, inclusiva e conectada à sua paisagem. É reconhecer a arquitetura como instrumento de transformação social e apostar em soluções qualificadas para a construção do futuro urbano de Goiânia", reflete o CAU/GO no documento enviado à imprensa.
Valor histórico
Projetado em 1962 por Paulo Mendes da Rocha, em parceria com o arquiteto João Eduardo de Gennaro, o edifício do Jóquei Clube representa uma das obras mais expressivas da arquitetura moderna brasileira em Goiânia. Vencedor de um concurso nacional promovido para a nova sede social do clube, o projeto propôs uma síntese entre arquitetura, estrutura e paisagem, valorizando os princípios do movimento modernista e antecipando preocupações urbanas e ambientais que permanecem atuais.
Implantado no Setor Central de Goiânia, às margens da Avenida Anhanguera, o edifício respeita a topografia natural do local, utilizando os desníveis para criar uma sequência dinâmica de espaços conectados por rampas e escadas, promovendo fluidez e acessibilidade.
A linguagem arquitetônica é marcada pelo brutalismo, com o uso expressivo do concreto aparente, grandes vãos e estrutura racionalizada. A solução estrutural adotada, com pilares em “V” invertido, que sustentam uma laje de cobertura plana, permite a criação de amplos espaços livres e uma flexibilidade programática notável, evidenciando o domínio técnico e o compromisso com a clareza construtiva.
O projeto original também integrava elementos naturais existentes no terreno, como o Córrego Buritis e uma pequena mata nativa. Essas áreas verdes foram incorporadas como espaços de contemplação e convivência, reforçando a relação entre o edifício e seu entorno. No entanto, intervenções realizadas nas décadas seguintes, como a construção de um grande estacionamento, acabaram por soterrar o córrego e eliminar a vegetação, descaracterizando parte importante da proposta original e empobrecendo a qualidade ambiental do lugar.